Carta de Repúdio
Nós, conselheiros do Conselho Municipal de Assistência Social do Rio de Janeiro, integramos a teia de controle social e por essa razão, não podemos nos Calar.
Durante a campanha eleitoral de 2018, a polarização chegou a um nível
preocupante. Velhas ideias de ódio e
segregação voltaram a ser empunhadas, travestida de moralismo, conservadorismo
e embaladas pelo viés da justificável luta contra corrupção.
Imediatamente após os resultados do pleito eleitoral, registrou-se a
primeira vítima fatal:
O compositor, cantor, percussionista, dançarino, coreografo e capoeirista
Romualdo Rosário da Costa, 63 anos, preto forte, nordestino e líder comunitário
e referência cultural na Bahia, no Brasil e no Mundo, mais conhecido como
Mestre Moa do Katendê foi "abatido".
Como nós, Mestre Moa, era ativista da luta, das causas sociais e um
dedicado defensor da cultura afro-brasileira. A morte dele tem elevadíssimo
significado e dimensão, não foi um "crime comum". Foi baseado na
disputa política partidária e motivada pelo ódio fomentado no período
eleitoral. Possui as mãos sujas de sangue, não só quem desferiu as dozes
facadas, mas quem corroborou com esse discurso, quem relativizou a violência
incitada nessas falas e nesses gestos e principalmente na omissão em barrar a
intolerância.
Sua morte representa grande perda para os movimentos Negro e Afro-Religioso
e somada ao assassinato covarde de Marielle Franco e Anderson Gomes, será sempre
lembrada, como inspiração e energia, para nossas lutas por um país de todos e
para todos. A morte de Mestre Moa no campo civil, do mesmo modo a morte de Marielle
Franco, que era uma parlamentar e Anderson Gomes, trabalhador, revelam também o
que são as margens da república. Essa três mortes representam uma recusa da
presença de interesses populares de negros, mulheres e pobres no sistema
político nacional.
No dia 8 de Janeiro de 2019 completou-se três meses da sua morte! O
CMAS-RIO solidariza-se com as famílias enlutadas do Mestre Moa do Katendê, em
Salvador, assim como com as de Marielle Franco e Anderson Gomes, no Rio de
Janeiro e de todo Brasil, repudiando com firmeza os discursos de ódio e
demonstrações impositivas de violência dos grupos protofascistas contra a
parcela de brasileiras e brasileiros que defendem as conquistas sociais e
diminuição das desigualdades através da distribuição de renda e a própria
DEMOCRACIA!
Não adianta calar o mestre de capoeira, mulheres e trabalhadores negr@s
e outros tantos segmentos discriminados, a fim de apagar suas memórias. O
legado deles sobrevive ao tempo e a violência pelas vozes de seus companheir@s,
seguidores e discípul@s.
Por isso, a resiliência da população negra é o que inspira a luta por um
Brasil mais justo em tempos tão duros e ressaltamos que o Estado Brasileiro é
devido responsável por essas execuções quando não cumpre a Carta Magna.
O ÓDIO NÃO REINARÁ SOBRE A ESPERANÇA!
MARIELLE FRANCO,
PRESENTE!
MESTRE MOA DO
KATENDÊ, PRESENTE!
ANDERSON GOMES,
PRESENTE!
Rio de Janeiro,
28 de Janeiro de 2019.
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